Memórias de um tempo simples, cheio de vida e de boas recordações.
Eu nunca entendi por que, mesmo a gente já tendo água encanada em casa, a mãe ainda insistia vez ou outra em ir lavar roupa no rio. Mas eu também não fazia esforço para entender não. No dia que eu, temendo que ela mudasse de ideia, perguntei por que ela gostava de lavar roupa no rio, ela apenas disse: roupa lavada no rio é outra coisa. Eu não quis esticar o assunto e levei aquilo para a vida como uma verdade absoluta.
Lembro que era uma alegria só. Ir com a mãe ao rio no dia de lavar roupa era uma garantia de que o passeio seria demorado.
Era mais ou menos assim: passávamos o dia no sol, sem preocupação com câncer de pele; tomávamos banho e corríamos pela areia, sem medo de micose; comíamos nas barracas, sem maiores preocupações sobre a higiene do local; fazíamos novos amigos, sem nos preocupar com a origem deles. Era um dia de felicidade, acho que posso definir assim.
Hoje em dia, minha mãe se tornou adepta da máquina de lavar e nós, do conforto das sombras das barracas. O mundo moderno às vezes parece ser tão antipático. Que bom que essas lembranças me inundam de uma simpatia infinita pelo mundo e pela vida.
(Trecho retirado do livro Meu Baú de Memorias, de Ciro Zulu)